Confira a entrevista exclusiva de Jovino Campos para a revista Gôndola
Uma empresa com 50 lojas, cobrindo toda a Zona da Mata Mineira, Campo dasVertentes e com acelerado crescimento em todo o Triângulo, desde o Pontal ao AltoParanaíba, aonde chegou em 2013 e está presente nas principais cidades.
Jovino Campos, que tem Paulo Roberto Lopes como sócio desde a criação da empresa, hoje é presidente de um Grupo que faturou R$ 2,39 bilhões em 2018 e queemprega diretamente 7.727 colaboradores. Apenas nos primeiros quatro meses de2019 o Grupo já investiu R$ 35 milhões em abertura de lojas. Número que vai crescer até o final do ano. Uma Companhia que nem nos seus melhores sonhos os sóciosimaginaram que ganharia tal dimensão. “Quando nós resolvemos fundar a empresa, na verdade a gente não pensava nunca em supermercado, nem em ser, muito menos, o que somos hoje” confirma Campos.
Naqueles difíceis tempos de 1983, em que o regime do governo militar agonizava e aeconomia do País parecia não achar rumos, a abertura de um barzinho servia pelomenos para o emprego dos dois sócios e para divertir amigos e clientes. “Eu tinharecentemente saído do Exército e junto com meu sócio, Paulo Roberto, resolvemosmontar um boteco. Numa esquinazinha, uma lojinha que era do tio dele. Fomostomando gosto pelo negócio. Então, a gente transformou o boteco em mercearia”, lembra Campos.
Nesta série em comemoração aos 25 anos da revista Gôndola, o presidente do Grupo Bahamas, Jovino Campos, leitor assíduo da Revista, fala do passado daempresa, do atual cenário do varejo e tenta imaginar como estará o segmento daqui a25 anos. Na entrevista a seguir, em que, por acordo entre as partes, será chamado de“você”, o empresário demonstra muito otimismo e releva os planos de estar entre as10 maiores empresas supermercadistas do Brasil.
Gôndola: Quando você criou o Bahamas, chegou a pensar que um dia ele estaria nesse porte?
Jovino: A empresa completou, no mês de março, 36 anos de existência. Quando nós resolvemos fundar o Bahamas, na verdade a gente não pensava nunca emsupermercado, muito menos ser o que somos hoje. Era apenas um barzinho, em1983. Então, a gente transformou o boteco em mercearia, de modo algumsupermercado. Alguns abriram, alguns fecharam e fomos ganhando experiência nessetempo e gosto pelo negócio. As coisas foram acontecendo por acaso. Principalmenteno início da nossa trajetória. Não havia planejamento.
Gôndola: Como está o Grupo Bahamas hoje?
Jovino: Hoje a empresa é outra. Chegamos a fechar o ano passado com 50 lojas, 16ºno ranking nacional e a empresa hoje é profissionalizada. Há três anos, começamos aimplantar a governança corporativa, a criação do Conselho… Então hoje nósplanejamos melhor para crescer. Por isso, estamos crescendo até num ritmo bastanteacelerado. Temos aberto, nos últimos anos, de cinco a seis lojas, e neste ano a gente tinha programado abrir entre 10 e 15 lojas. Tudo pode acontecer durante o ano. Játemos anunciado em torno de cinco lojas que já estão em obras, outras virão até ofinal do ano. Então, hoje é uma empresa que trabalha de forma organizada e maisbem planejada. No início não foi nada programado e hoje a gente realmente está como intuito, com um projeto de crescer e desenvolver e de em poucos anos estar entre as10 maiores do Brasil. Esse é o nosso objetivo.
Gôndola: Tem um prazo para isso?
Jovino: A gente não sabe precisar quando isso vai ser, porque existe um movimentomuito grande entre outras empresas também. Da mesma forma que estamos comessa sede de crescer no mercado, outras também estão. Então a gente está sempreem busca de oportunidades, de desafios. E nós, dentro de Minas Gerais, estamostambém buscando novos mercados para implantar novos modelos de lojas.
Gôndola: Fazendo uma referência aos 25 anos da revista Gôndola: ela foicriada em 1994, ano da implantação do Plano Real. O que aquele novo momentoda economia representou para o Bahamas?
Jovino: Nós tivemos que reaprender a trabalhar. Trabalhar em cima de compra evenda mesmo, de margem sobre produto e não mais visando o lado financeiro, o ladoda aplicação, do overnight, que a gente fazia muito. Isso foi uma oportunidade, e agente conseguiu se adaptar a esse novo mercado muito rápido. Vimos que algumasempresas, que eram mais financistas do que comerciais, tiveram problemas. Nóstivemos essa oportunidade. Algumas empresas antigas foram fechando suas portas, enesse vácuo que ocorreu no mercado o Bahamas sentiu a oportunidade de ocuparespaços deixados por grandes empresas, que contribuíram muito naquela época parao crescimento do varejo no Brasil.
Gôndola: Falamos em 25 anos atrás, e agora, pensando 25 anos para frente: o que se pode pensar do Bahamas e do segmento supermercadista daqui a 25anos?
Jovino: A nossa expectativa é muito boa, porque estamos trabalhando paradesenvolver e manter a empresa com os acionistas que estão hoje. Em momentonenhum a empresa pensou em estar preparando lojas para vender, e sim paracrescer. Temos hoje um fundo imobiliário que cuida dos imóveis da empresa. Dasnossas 50 lojas, 32 são lojas próprias do fundo imobiliário. Então, a gente está não só desenvolvendo o fundo, mas também as lojas, buscando ser inovador no conceito deloja. Hoje, temos seis modelos de lojas: o hiper, o supermercado tradicional, omercado, o empório, o mix e, recentemente, inauguramos a nossa primeira loja, que éum dos focos que a gente vai dar também neste ano, pelo menos em números delojas, que é o Bahamas Express, um modelo que estudamos há muito tempo, estavaengavetado e que resolvemos no ano passado colocar no mercado.
Gôndola: O Bahamas está apostando muito nesse formato Express…
Jovino: A primeira loja que abrimos foi um sucesso. Já estamos com duas outrasprogramadas, com data marcada, e mais outras duas em construção. Então, este anopelo menos quatro lojas da bandeira Express vão ser inauguradas. É um modelo que étendência também, porque é um mercado de conveniência em locais de grande fluxo.Estamos abrindo em grandes cidades e isso vai fazer com que a gente cresça muito.
Gôndola: E o atacarejo?
Jovino: Tem ainda a bandeira Bahamas Mix, em que fizemos os maiores investimentos nos últimos anos. Já conta com 20 lojas e é quase 50% do faturamento da empresa. Em poucos meses, ainda dentro deste ano, acredito que a bandeira de atacarejo nossa vai suplantar a de varejo. Então a gente está com muito otimismo para os próximos 25 anos. É desenvolver e crescer. Quem sabe aí não esperar esses 25 anos para estar entre os 10, mas quem sabe nesses 25 anos a gente possa estar entre os cinco maiores do Brasil. Não é fácil também, mas temos espaço para crescer e acho que no futuro a gente pensa até mesmo em ter lojas também fora do estado de Minas Gerais.
Gôndola: Já tem um estado que a empresa vislumbra para essa atuação?
Jovino: Sim. Eu fiz um estudo cinco anos atrás sobre o estado de Goiás, mas naquele momento não foi muito viável por problemas fiscais, porque a gente tem essa briga de estado para estado e teríamos que montar uma estrutura separada no estado. Sentimos que não estávamos preparados ainda para isso. Mas eu acho que deve haver uma reforma fiscal nos próximos anos, ou pelo menos uma minirreforma que possa adequar melhor, e que a gente possa estar trabalhando nos dois estados paralelamente e sendo atendido por uma área comercial só.
Gôndola: Voltando um pouco no assunto do formato de loja: você disse que o Express deve ganhar mais investimento. Por que essa aposta nessas pequenas lojas?
Jovino: O consumidor hoje em dia tem cada vez menos tempo. A correria do dia a dia é muito grande, então a gente percebe que o consumidor tem necessidade de agilidade para comprar. Temos um crescimento não muito grande na área de alimentos no e-commerce, mas esse tipo de loja (Express), no meu ponto de vista concorre um pouco com o e-commerce. Por quê? Quem compra em e-commerce? É quem não tem tempo de ir ao supermercado, não gosta de supermercado, quer uma coisa mais fácil. Essas lojas de Express podem atender em parte esse tipo de consumidor.
Gôndola: É também um formato mais barato, que requer menos espaço…
Jovino: São lojas mais fáceis de abrir, porque precisa de menos espaço e, consequentemente, tem mais oportunidade. Hoje o mercado tem muita oferta para esse modelo de loja, que varia entre 200 e 300 metros quadrados. É fácil. Para montar um supermercado hoje, um atacarejo, no nosso caso, por exemplo, a gente precisa de 14 mil a 16 mil metros quadrados de área. Um supermercado tradicional, em torno de 10 mil metros quadrados. Essas áreas estão cada vez mais difíceis e mais caras para que você consiga um ponto comercial bom. Você acaba saindo um pouco do centro da cidade, dos locais de muita movimentação de pessoas, por falta de espaços. Com uma logística boa, temos um grande facilitador de abastecimento para esse tipo de loja.
Gôndola: Você diria que o Express veio ocupar um espaço entre o supermercado tradicional e a loja on-line?
Jovino: Eu faço esse comparativo porque eu não tenho ainda o e-commerce. Estamos realmente postergando isso por entender que ainda não é, pelo menos para o varejo de alimentos, um bom negócio. A gente vê que as empresas que aderiam ao e-commerce de alimentos estão no prejuízo. Não é um negócio que atende bem o consumidor. O consumidor não está satisfeito, o empresário também não está satisfeito no e-commerce de alimentos. Entendemos que esse modelo (Express) é um modelo que pode atender quem tem pressa. Está na porta da casa, o consumidor para ali, compra uma carne, um leite, um pão, uma verdura, uma fruta. Tem de tudo, mas é com pouca variedade, mas com um atendimento mais ágil. É uma conveniência.
Gôndola: Em vez do e-commerce, o setor deveria investir em mais atrativos na loja para fazer o consumidor ter mais vontade de ir ao supermercado?
Jovino: Sim. É nisso que a gente pensa. Tem que buscar um novo formato de compra. Atrair o consumidor para a loja, ter um ambiente, voltado para o consumidor, um atendimento melhor… Para mim, esse é o caminho. Há muita coisa ainda que pode se fazer dentro do varejo para que o consumidor não fique com tanta dificuldade para comprar. Hoje tem o self checkout também, que o Bahamas vai começar a implantar nas suas lojas, para que o consumidor se sinta mais à vontade, para ele ter uma experiência nova de compra. Tem muito cliente que vai ao supermercado por obrigação e a gente quer tentar levá-lo por prazer. A pessoa tem que ter prazer em ir ao supermercado, sentir-se bem, ser bem atendido e com preço justo. Esse é o papel do varejo tradicional.
Gôndola: Pensando para frente, você acredita que daqui a 25 anos alguns formatos devam desaparecer?
Jovino: É muito difícil prever, porque hoje em dia as mudanças estão muito rápidas. Acontecem dentro de um mês, coisa que acontecia em cem anos. Eu acredito que vá haver mudanças na forma de comprar, de consumir; os próprios produtos que vão surgir no futuro. A gente tem que estar sempre atento a essas tendências, esperando que as coisas se concretizem primeiro, porque a gente, às vezes, fica pensando: ‘a tendência é essa’ e quer mudar muito rápido e o consumidor não está preparado. Eu acho que as mudanças têm que vir. Mas de acordo com quê? Com as necessidades do consumidor, e não com aquilo que a gente entende. E mesmo que as tecnologias apareçam, mas realmente dentro daquilo que o consumidor está querendo. É claro que é importante de vez em quando surpreendê-lo com algo que ele não está esperando, e nisso a tecnologia ajuda muito.
Gôndola: O varejo físico, tradicional, vai acabar?
Jovino: Eu não acredito que o varejo tradicional vá acabar. Não vai acabar o supermercado. Mesmo dentro de 25 anos, ainda vai existir supermercado tradicional, lojas onde o consumidor vai fazer sua compra, vai ter funcionário no checkout. Mas, junto com isso, vai haver muita tecnologia facilitadora para o consumidor.
Gôndola: E esses supermercados sem funcionários…
Jovino: Essas lojas sem checkout já existem, são realidade. Não é um futuro de 25 anos. Mas ainda é algo muito caro. Poucos supermercadistas podem fazer e não é todo consumidor que está interessado nisso. A própria confiabilidade do sistema, tanto para o supermercadista quanto para o consumidor, eu acho que tem que desenvolver um pouco mais, porque segurança é tudo para ambos.
Gôndola: O que mais pode vir?
Jovino: Eu enxergo que vai haver espaço e tem muita coisa nova para acontecer que é muito difícil prever. Temos que ficar atentos. Surgiu uma nova tecnologia, um novo modelo de supermercado, nós temos que procurar conhecer. Então o supermercadista como um todo tem que estar atento às mudanças. É o benchmarking junto aos colegas de supermercados. É viajar, conhecer novas tecnologias… Não tem mais espaço para acomodação no varejo. Quem está no varejo e acha que está bom do jeito que está, tem que entregar o seu negócio, porque as mudanças vão ser muito mais ágeis daqui para frente. Isso é a única certeza que tenho.
Gôndola: A tecnologia vai aumentar no setor, ela vai ser importante. Mas por outro lado aquele tratamento pessoal vai fazer a diferença?
Jovino: Com certeza. Eu acho que isso aí não pode acabar. Quando você entra numa loja que não tem nem um funcionário para lhe dar um bom-dia, um boa-tarde, sem te auxiliar em alguma coisa, é uma loja muito fria. Eu tenho certeza que a maioria não quer isso. É bacana, é um modelo legal (loja autônoma). Jovem gosta de entrar e comprar uma coisinha ou outra, mas isso não estimula muito a compra. Pode até acontecer, mas eu acredito que dentro desses 25 anos, a maioria ainda vai ser dessa forma, do atendimento pessoal. Eu acho que as pessoas vão fazer grande diferença. Estamos falando muito em tecnologia, mas no futuro vamos sentir falta das pessoas para atender no varejo.
Gôndola: Pensando 25 anos para frente: como o supermercado e o fornecedor tem que agir hoje para chegar bem a 2044?
Jovino: A gente fala muito em parceria, uma palavra até muito desgastada, mas eu não sei se teria outra palavra… Poderia usar o comprometimento que a gente teria um com o outro. O compromisso de sempre poder melhorar a cadeia produtiva. A confiança também. A indústria tem que ter o compromisso não só de vender X de produtos, mas é importante que ela perceba que tem o compromisso de que esse produto atenda o consumidor no final. É preciso mostrar que somos parceiros e que precisamos trabalhar em conjunto. Sempre foi assim e acho que daqui para frente vai ser mais ainda. Até porque hoje tem muita oferta de produto, muita gente no mercado competindo. Antigamente o número de fornecedores era menor. Hoje é um número muito grande de fornecedores, produtos diversificados, produtos do mundo inteiro.